sábado, 5 de outubro de 2002

O Notalatina de hoje traz duas informações muito pertinentes a esse momento que estamos vivendo: a primeira é sobre a possível vinda do monstro do Caribe à posse de sua cria, e a segunda, um texto da jornalista independente do Grupo Decoro, Claudia Márquez Linares, sobre eleições.



Aparentemente, nossas eleições são pluripartidárias e democráticas, mas, analisando um pouco mais a fundo, podemos ver sem muito esforço que trata-se antes de um jogo, onde todos jogam no mesmo time, não diferindo muito do que nos relata a jornalista cubana.



Qualquer semelhança não é mera coincidência; é caso pensado mesmo.



O Estado de S. Paulo, Quinta-feira, 3 de outubro de 2002, Caderno 2



FIDEL OU NÃO FIDEL?



César Giobbi



Integrantes do PT, envolvidos em questões internacionais, estão

articulando a vinda de Fidel Castro, para uma eventual posse de Lula.

Tudo vai depender, porém, de a Câmara conseguir mudar a data da posse.

Se for mantido o dia 1.º de janeiro, a assessoria de Fidel informou que

ele não poderá comparecer pois, justamente nesta data, comanda o

aniversário da Revolução.



Dá para calcular o empenho do PT para que a

data seja alterada para o dia 6?



O TEATRO DAS ELEIÇÕES



Claudia Márquez Linares, Grupo Decoro



HAVANA, setembro (www.cubanet.org) - Se lhe disserem, amigo leitor, que você pode assistir a umas eleições onde todos os candidatos pertencem a um só partido, seguramente pensará que não vale a pena votar. Em Cuba, o direito de exercer o voto não brinda a oportunidade de escolher de acordo com simpatias políticas, senão que todas as pessoas propostas respondem a uma mesma linha ideológica, traçada pelo Partido Comunista de Cuba.



O medo que as pessoas expressem suas opiniões sobre possíveis mudanças políticas, está latente nas autoridades. A ansiedade por controlar tudo, conduz os funcionários políticos a situações ridículas. Uma fonte anônima de dentro do Poder Popular, afirma que o governo ordenou investigar todos os candidatos que tenham sido propostos nas assembléias: histórico revolucionário, amizades que frequenta, etc. Esta informação se canaliza através dos Comitês de Defesa da Revolução, situados em cada quadra do país.



Atuar como se verdadeiramente votasse, implica uma mobilização de todos os ramos do governo. Só para dizer ao mundo que somos o povo mais democrático, e imediatamente publicar o alto percentual de votantes que acudiu às urnas socialistas, santificando este delírio à la cubana que são as eleições. Porém, ninguém se preocupa em conhecer o histórico de nenhum candidato. Como afirma Carmen, escriturária de 43 anos: "Dá no mesmo, votar num ou noutro. São todos do mesmo bando".



Fontes anônimas do próprio Partido Comunista asseguram que através de um boletim de circulação limitada, alerta-se os militantes da organização a que durante o processo, mantenham-se alertas ante a possibilidade de que algum dissidente possa ser postulado e eleito. O boletim orienta a que saiam no encalço dos opositores, se aparecerem, e não permitam que prevaleçam seus critérios.



Diversos sucessos da política nacional demonstram que o governo se nega a realizar qualquer tipo de mudança. Quando na província de Santa Clara o opositor Guillermo Fariñas decidiu falar sobre o Projeto Varela, nas eleições de sua circunscrição, defendendo o direito do cubano a expressar-se livremente, foi agredido verbalmente por um dirigente do partido que presidia a reunião, que acusou Fariña de mercenário e contra-revolucionário. Nesta ocasião, os que assistiam à reunião saíram em defesa do opositor, alegando que estava exercendo seu direito a expressar-se livremente.



Outro sucesso acontecido que demonstra o temor das autoridades a que a população se reúna e debata sobre democracia, ocorreu no povoado de Alamar. Vários jovens debatiam sobre política nacional e o papel da juventude em Cuba. A dona da casa onde se encontravam, a senhora Yara Dominguez García, foi citada por dois membros do Departamento de Segurança do Estado, os quais a interrogaram sobre o "encontro juvenil", e trataram de pressioná-la para que aquilo não voltasse a se repetir. A senhora Dominguez manteve-se firme em sua convicção de que não estava cometendo nenhum delito, ao permitir que em sua casa se reunissem alguns jovens e se expressassem com toda liberdade.



Aparentar que tudo está tranquilo e que reina a paz e a transparência, é o objetivo do governo cubano, embora a realidade demonstre que a cúpula do poder tem medo de que o povo se una aos que clamam por mudanças na Ilha. O pior para esse poder, é que o desenvolvimento da sociedade civil independente de Cuba não tem volta atrás.



Esta informação foi transmitida por telefone, já que o governo de Cuba não permite ao cidadão cubano o acesso privado à internet. CubaNet não reclama exclusividade de seus colaboradores, e autoriza a reprodução deste material, sempre que se lhe reconheça como fonte.

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